Ausente o encanto antes cultivado
Percebo o mecanismo indiferente
Que teima em resgatar sem confiança
A essência do delito então sagrado
Meu coração não quer deixar
Meu corpo descansar
E teu desejo inverso é velho amigo
Já que o tenho sempre a meu lado
Hoje então aceitas pelo nome
O que perfeito entregas mas é tarde
Só daria certo aos dois que tentam
Se ainda embriagado pela fome
Exatos teu perdão e tua idade
O indulto a ti tomasse como bênção
Não esconda tristeza de mim
Todos se afastam quando o mundo está errado
Quando o que temos é um catálogo de erros
Quando precisamos de carinho
Força e cuidado
Este é o livro das flores
Este é o livro do destino
Este é o livro de nossos dias
Este é o dia de nossos amores
Renato Russo
O livros dos dias.
segunda-feira, 29 de junho de 2009
Sinceridade Proscrita
sábado, 27 de junho de 2009
A verdade permanece sepultada sob as máximas de uma falsa delicadeza. Chama-se saber viver à arte de viver com baixeza. Não se põe diferença entre conhecer o mundo e enganá-lo; e a cerimónia, que deveria ater-se inteiramente ao exterior, introduz-se nos nossos costumes mesmos.
A ingenuidade deixa-se aos espíritos pequenos, como uma marca da sua imbecilidade. A franqueza é olhada como um vício na educação. Nada de pedir que o coração saiba manter o seu lugar; basta que façamos como os outros. É como nos retratos, aos quais não se exige mais do que parecença. Crê-se ter achado o meio de tornar a vida deliciosa, através da doçura da adulação.
Um homem simples que não tem senão a verdade a dizer é olhado como o perturbador do prazer público. Evitam-no, porque não agrada; evita-se a verdade que anuncia, porque é amarga; evita-se a sinceridade que professa porque não dá frutos senão selvagens; temem-na porque humilha, porque revolta o orgulho que é a mais cara das paixões, porque é um pintor fiel, que faz com que nos vejamos tão disformes como somos.
Não há por que nos espantarmos, se ela é rara: é expulsa, proscrita por toda a parte. Coisa maravilhosa: só a custo encontra asilo no seio da amizade!
Seduzidos sempre pelo mesmo erro, não fazemos amigos senão para dispormos de pessoas particularmente destinadas a comprazer-nos: a nossa estima acaba com a sua complacência; o termo da amizade é o termo dos agrados. E tais agrados que são? Que é o que nos agrada mais nos nossos amigos? São os contínuos louvores, que deles recolhemos como tributos.
Montesquieu
Minha Viagem.
Por que parei de brincar com as palavras?
Ou foram elas que pararam de falar comigo?
Talvez porque eu viva em meio às pragas,
Elas não conseguem em mim achar abrigo.
Um abrigo que não posso encontrar.
Talvez por causa da embriaguez dos meus olhos,
Que estão cegos pela fadiga da viagem...
Uma viagem muito longe de acabar.
Pelo caminho, vou descobrindo coisas
Que nunca ousei tentar imaginar:
Harmonia, cor e poesia!
Substância natural deste lugar.
Mas gostaria de estar sóbrio para poder sonhar;
E assim sorrir pra lua, e ela pra mim.Ser amigo das estrelas, e descansar!
Seria ótimo... ótimo se fosse o fim.
Desculpe a franqueza..
quarta-feira, 24 de junho de 2009
- Você me pergunta por que tenho tanta dificuldade em ser otimista. E eu então lhe pergunto "por que ser?" ( ou deveria perguntar Pra quê?)A vida não é um mar de rosas não, aliás, muitas vezes a vida não chega nem mesmo a ser um mar - no sentido belo e forte - mas é traiçoeira.
Desculpe! eu não tenho o dom de confiar no futuro e nem é de meu feitio atender sempre o lado positivo das coisas. Talvez se me falasse sobre isso semana passada eu pudesse ser um pouco otimista sobre o tema 'otimismo', mas essa semana não está favorecendo uma doutrina positiva, então não me venha com historias de que o bem prevalece o mal e que o mundo é o melhor possível. Nem mesmo me jogue a culpa se por acaso o mundo não seja perfeito. É uma péssima mania achar que tudo vai ter jeito. Onde comprou tanta alegria? Isso não cabe na minha vida vazia.
Desculpe! Não posso ser positivo perante essa vacuidade.
- Pobre de ti! Se tua vida é vazia é porque ainda não descobriu o seu sentido... E mal sabe que nem sempre precisa tê-lo. Nada posso fazer pelas criaturas que sequer aacreditam em si... 'Quase viver' é estar 'quase morto'. Desculpa!
Marilia de Dirceu
Vamos ser escritores.
terça-feira, 23 de junho de 2009
O tempo corre, esgota-se, esfuma-se, transforma-se numa dor de estômago, num latejar da cabeça, num suor frio. As pessoas nunca estão realmente bem onde estão, nem às horas que estão, e sabem-no e gostam. Porque a viajem do 'aqui' para o 'ali', do 'agora' para o 'depois', é algo que lhes activa a circulação do corpo e areja a mente, por isso sentem-se bem mudando; mudam de roupa, de mobílias, de carro, de corte de cabelo, de casa. Assim, como é de esperar, neste contexto moderno, as pessoas que se movem mais 'ganham' às que se movem menos, é quase como jogar à apanhada. Mover ou mexer mais, procurar ou criar mais, no seio da nossa modernidade, não passam tudo de sinónimos de produtividade. Há pois que produzir, que engarrafar qualquer coisa que saía de nós, nem que seja apenas a nossa capacidade de trabalho (que qualquer dia até é medida em joules).
Finalmente, para encher as prateleiras das nossas estantes, os discos dos nossos computadores, as caixas dos nossos correios e até a memória dos nossos telemóveis, há também que produzir livros, enciclopédias, brochuras, folhetos, blogs, pdf's e mais um cem número de outros formatos de apresentação de texto, incluindo as tão famosas SMS's. No entanto o livro é sempre aquele que apela verdadeiramente ao tradicionalismo intelectual e é ele o único que satisfaz a necessidade de prestígio dos mais puritanos e intelectuais. Conclusão: toda a gente tem que escrever um livro! Mesmo aquelas pessoas que o mundo ficaria melhor se ninguém chegasse a saber o que lhes passa pela cabeça. Quem não sabe fazer mais nada, torna-se escritor, já houve quem tivesse dito... Na verdade, quem quer ser famoso ou ter o mínimo de prestígio só possui três opções; ou grava um CD, ou participa numa novela (vida real ou não...), ou então, por último, escreve um livro! Qual é a opção mais fácil? Escrever um livro, óbvio! Isto por duas razões; Primeiro porque os critérios modernos de avaliação artística não existem, e se existem não são artísticos mas sim económicos; Segundo porque o mais certo é que ninguém vá ler o livro, portanto, o prestígio de ter escrito um livro atinge o seu climax quando este aparece nas prateleiras das livrarias ou é anunciado num telejornal ou surge a adornar as páginas dum curriculum vitae. Este homem não é um homem qualquer! Este homem escreveu um livro.
Não é só importante escrever livros, também é importante ler livros. O homem culto e moderno vê o livro como o tal objecto sagrado de salvação, o único que o pode salvar da 'burrice eterna'. Para esse homem, o mundo natural, o mundo humano, todas as infinitas e distintas formas em que os pensamentos se materializam no seio do universo cultural e artístico, não passam de pó, de diversão humana, de ‘nada’! Não alimenta a massa cinzenta; na sociedade moderna, só quem lê muitos livros é que cuida da sua inteligência. É como se todas as sementinhas deste planeta tivessem necessitado de um regadorzinho de plástico para chegarem a ser árvores robustas. Jamais se acredita nas nuvens, ou na chuva, portanto a massa cinzenta não se rega, a não ser que tenhamos dinheiro para comprar um livrinho todos os meses… Seja a lê-los, seja a escrevê-los, parece que quem mexe com os livros é sempre pessoa superior! E quando os livros que já se escreveu são muitos e se é mais do que um 'zé ninguém' na arte da literatura, a disputa muda de contexto e passa então a ser sinónimo de intelectualidade e de superioridade literária a quantidade de páginas e o número de citações.
É nos meios académicos da modernidade que se inicia o culto da citação; como haveríamos nós de justificar as nossas palavras? Senão com as palavras de outros?! O que no fundo só faz algum sentido se as palavras de uns, forem realmente mais valiosas que as doutros! E são? Claro que são!... As palavras têm o prestígio de quem as profere, de quem as escreve. Portanto, se eu estiver a escrever um livro e precisar de dar crédito e prestígio às minhas palavras, é fácil, sirvo-me do prestígio do pensamento alheio e faço uso duma citaçãozinha que só me fica bem. Não há necessidade alguma dum pensamento lógico, coerente, auto-suficiente, viril o necessário para se bastar a si próprio. Para os intelectuais modernos, quanto mais citações melhor. Se as citações totalizarem mais de cinquenta por cento do conteúdo da obra literária, então perfeito, porque pode ser a maior idiotice jamais escrita, mas ninguém duvidará da sua fundamentação. É pois, mais do que suficiente para a nossa modernidade, um pensamento do género 'eco', um estilo inspirado no papel químico; onde o escritor faz de conta que tem uma cabeça, mas na verdade possuí apenas uma bola oca, onde as palavras que leu ou ouviu algures, se amontoam em camadas e se organizam por dossiers. Num dia qualquer, quando o escritor põe os dedos à boca, provoca o vómito e elas voltam a sair pelas suas mãos e se fixam novamente na folha de papel...
Miguel Sagres.
E tudo mudou...
domingo, 21 de junho de 2009
O rouge virou blush
O pó-de-arroz virou pó-compacto
O brilho virou gloss
O rímel virou máscara incolor
A Lycra virou stretch
Anabela virou plataforma
O corpete virou porta-seios
Que virou sutiã
Que virou lib
Que virou silicone
A peruca virou aplique, interlace, megahair, alongamento
A escova virou chapinha
"Problemas de moça" viraram TPM
Confete virou MM
A crise de nervos virou estresse
A chita virou viscose.
A purpurina virou gliter
A brilhantina virou mousse
Os halteres viraram bomba
A ergométrica virou spinning
A tanga virou fio dental
E o fio dental virou anti-séptico bucal
Ninguém mais vê...
Ping-Pong virou Babaloo
O a-la-carte virou self-service
A tristeza, depressão
O espaguete virou Miojo pronto
A paquera virou pegação
A gafieira virou dança de salão
O que era praça virou shopping
A areia virou ringue
A caneta virou teclado
O long play virou CD
A fita de vídeo é DVD
O CD já é MP3
É um filho onde éramos seis
O álbum de fotos agora é mostrado por email
O namoro agora é virtual
A cantada virou torpedo
E do "não" não se tem medo
O break virou street
O samba, pagode
O carnaval de rua virou Sapucaí
O folclore brasileiro, halloween
O piano agora é teclado, também
O forró de sanfona ficou eletrônico
Fortificante não é mais Biotônico
Bicicleta virou Bis
Polícia e ladrão virou counter strike
Folhetins são novelas de TV
Fauna e flora a desaparecer
Lobato virou Paulo Coelho
Caetano virou um chato
Chico sumiu da FM e TV
Baby se converteu
RPM desapareceu
Elis ressuscitou em Maria Rita?
Gal virou fênix
Raul e Renato,
Cássia e Cazuza,
Lennon e Elvis,
Todos anjos
Agora só tocam lira...
A AIDS virou gripe
A bala antes encontrada agora é perdida
A violência está coisa maldita!
A maconha é calmante
O professor é agora o facilitador
As lições já não importam mais
A guerra superou a paz
E a sociedade ficou incapaz...
... De tudo.
Inclusive de notar essas diferenças.
Luis Fernando Veríssimo
Para se roubar ...
um coração, é preciso que seja com muita habilidade, tem que ser vagarosamente, disfarçadamente, não se chega com ímpeto, não se alcança o coração de alguém com pressa.Tem que se aproximar com meias palavras, suavemente, apoderar-se dele aos poucos, com cuidado.
Não se pode deixar que percebam que ele será roubado, na verdade, teremos que furtá-lo, docemente. Conquistar um coração de verdade dá trabalho,requer paciência, é como se fosse tecer uma colcha de retalhos, aplicar uma renda em um vestido, tratar de um jardim, cuidar de uma criança. É necessário que seja com destreza, com vontade, com encanto, carinho e sinceridade.
Para se conquistar um coração definitivamente tem que ter garra e esperteza, mas não falo dessa esperteza que todos conhecem, falo da esperteza de sentimentos, daquela que existe guardada na alma em todos os momentos.
Quando se deseja realmente conquistar um coração, é preciso que antes já tenhamos conseguido conquistar o nosso, é preciso que ele já tenha sido explorado nos mínimos detalhes, que já se tenha conseguido conhecer cada cantinho, entender cada espaço preenchido e aceitar cada espaço vago...
...e então, quando finalmente esse coração for conquistado, quando tivermos nos apoderado dele, vai existir uma parte de alguém que seguirá conosco.
Uma metade de alguém que será guiada por nós e o nosso coração passará a bater por conta desse outro coração.
Eles sofrerão altos e baixos sim, mas com certeza haverá instantes, milhares de instantes de alegria.
Baterá descompassado muitas vezes e sabe por que?
Faltará a metade dele que ainda não está junto de nós.
Até que um dia, cansado de estar dividido ao meio, esse coração chamará a sua outra parte e alguém por vontade própria, sem que precisemos roubá-la ou furtá-la nos entregará a metade que faltava.
... e é assim que se rouba um coração, fácil não?
Pois é, nós só precisaremos roubar uma metade, a outra virá na nossa mão e ficará detectado um roubo então!
E é só por isso que encontramos tantas pessoas pela vida a fora que dizem que nunca mais conseguiram amar alguém... é simples... é porque elas não possuem mais coração, eles foram roubados, arrancados do seu peito, e somente com um grande amor ela terá um novo coração, afinal de contas, corações são para serem divididos, e com certeza esse grande amor repartirá o dele com você.
Luis Fernando Veríssimo
Apresentação do Blog
sábado, 20 de junho de 2009
Este Blog foi feito com o intuito de compartilhar textos que retratem a visão de pessoas que usem da Ironia como forma de lidar com varias questões da vida.
um abraço.